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Raul Pires raul.pires@entroncamentoonline.pt

Dizem-nos que a modernidade começou nos fins do século XV. A humanidade começava a ter esperança no espírito humano esclarecido. A ideia-força que se ia criando, a crença na ciência materialista, na Razão laica e no avanço da técnica confirmavam a lei do progresso irreversível.

Pura ilusão. Já nos finais do século XX, percebíamos que a modernidade agonizava. Já não acreditamos no progresso indefinido do espírito humano enunciado por Condorcet. Quem acredita no sentido ascensional da evolução biológica revelado por Lamarck e Darwin? O que pensar da lei dos três estados de Auguste Comte? Afinal, quando é que a Humanidade atingirá a idade racional? O “socialismo científico” de Marx acreditava na lei histórica determinadora do advento da sociedade sem classes, isto é, sem exploradores nem dominados.

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As guerras mundiais do século XX, as guerras da Coreia, Vietname, Nigéria, Afeganistão, Iraque, Líbano e a guerra israelo-árabe, entre outros focos de violência, deitam por terra toda a ideia-força da modernidade e alimentam o exibicionismo e o egoísmo daqueles que não se importam com o seu vizinho. O futuro torna-se incerto. A Humanidade também comporta em si o gérmen da maldade. A violência, a mentira e o orgulho maléfico aguardam sempre o melhor momento para se manifestar. Quando o Iraque invadiu o Kuwait, a invasão foi considerada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros soviético, E. Chevardnadze como “um ato de terrorismo contra a nova ordem mundial”.  Então!? Que dizer da invasão bárbara perpetrada contra a Ucrânia pelo “czar” Putin?

A História repete-se, agora com outros atores. Parece que o Presidente Russo quer restaurar o mapa político-estratégico da Europa, nomeadamente a Leste, que existia antes de 1983. Nova ilusão. Para tal, está disposto a invadir, destruir, causar medo, sofrimento, morte, sangue e miséria. Mas, mais uma ilusão. Desde o surgimento da “glasnot” (abertura) e da “perestroika” (reestruturação) introduzidas por Gorbatchev, as relações Leste/Ocidente jamais voltariam a ser as mesmas. As mudanças que se seguiram foram tão radicais, como as que levaram `a queda do Muro de Berlim, ao fim de regimes totalitários e à implantação de regimes pluripartidários.

Parece que o Presidente Putin tem dificuldades em perceber a História. A Polónia, a Hungria, Bulgária, Roménia, Áustria, Jugoslávia, Ucrânia, procuraram novos caminhos de progresso e prosperidade, através de reformas significativas e transformação da economia através de relações de mercado. Deixaram de acreditar na auto- intitulada democracia do partido único, percebendo que era possível experimentar os caminhos da democracia pluralista, da liberdade e da felicidade.

Este é o problema. O Presidente Putin não quer que os Ucranianos vivam segundo os valores do Ocidente, entrando para a U.E. e fazendo parte da Nato. Pensa impedi-lo recorrendo à guerra. Nova ilusão. Em 1989, o comunismo sofreu uma clamorosa derrota. Os povos que viram negado o direito à sua própria identidade, que se viram invadidos, reprimidos, despojados das liberdades fundamentais e espoliados do direito de escolher, a partir dessa data sentiram-se impelidos e a cobiçar o êxito económico do Ocidente e a querer experimentar o nível de vida e de bem-estar atingidos pelos países democráticos e, nomeadamente, por aqueles que fazem parte da U.E. Como tal, desejar restaurar o império que existia antes de 1989 é uma fantasia.

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