Seremos livres no querer e no atuar? Não, certamente. Não é verdade que sejamos absolutamente livres. A nossa vida concreta decorre num campo existencial caracterizado por limitações, restrições, condicionamentos e vinculações.
Quando nascemos, cada um traz consigo um potencial hereditário que o irá marcar para o resto da vida. Além desta herança de determinadas aptidões corporais e espirituais, cada um de nós sofrerá as influências do meio ambiente. Somos educados e aprendemos os valores sociais, religiosos e éticos que caracterizam a época em que vivemos.
Não podemos ser diferentes daquilo que somos. São as potencialidades internas e os factores externos que limitam a nossa liberdade de decisão e que fazem com que sejamos aquilo que somos. No dia-a-dia, somos colocados perante uma multiplicidade de possibilidades que desafiam o nosso querer e agir. Também nesta realidade somos bastante condicionados. Com efeito, somos incapazes de realizar todos as possibilidade que se nos pré-apresentam. Umas serão realizadas, outras ignoradas, outras nem sequer entram no horizonte da nossa compreensão e ainda outras só podem ser imaginadas porque são superiores à nossa capacidade de concretização. Julgamo-las inacessíveis. Excluímo-las de antemão porque somos incapazes de as realizar e, assim, a nossa liberdade de decisão acha-se bem restringida.
Mas, há ainda outra questão a considerar: a vinculação da liberdade. Este fenómeno parece limitar a nossa liberdade de decisão. Bem pelo contrário, fortalece-a e incita-a a atuar. Na atual crise pandémica, muitos valores saem-nos ao encontro mas, há um deles que exige a plena aceitação e realização: a saúde.
Exige a sua aceitação e realização, expressando-nos um inquestionável dever absoluto, implicando a renúncia a outras formas de comportamentos mais agradáveis, como festas políticas, festas no Campo Pequeno, exposições gratuitas nas praias, manifestações religiosas, festas particulares, batizados, casamentos, festas irreverentes de jovem, etc. etc.
Se calhar estou a exagerar. Aqueles que autorizaram e que possibilitaram a proliferação do “vírus”, são os mesmos que, agora, impõem condicionamentos e restrições cada vez mais severas. Até já querem pôr os polícias a controlar telemóveis. Ai! Valha-me Deus!
Não se iludam. O dever ético é imperativo e diz respeito a todos, exigindo a nossa livre aceitação, quer queiramos ou não. Cumprir as diretrizes da DGS é um dever ético que a todos obriga. Faz parte da experiência fundamental da nossa existência humana. Este “vírus” tudo interliga. As partes (festas e outros comportamentos propagadores do “Covid – 19”) atentam contra o Todo, quando o Todo é a soma das Partes. Esquecem-se que no Universo Humano, tudo está interligado. Daí sermos todos responsáveis. Todos temos a obrigação de combater o “vírus”, embora, por natureza das funções que exercem, uns mais do que outros.
A saúde é um bem que se nos impõe com carácter obrigatório. Não será um bem a proteger só por aqueles que têm a responsabilidade política de o acautelar, mas será um bem-estar que afecta a todos, e que resulta do equilíbrio reinante em cada um de nós (física e psicologicamente) e na relação que estabelecemos com o meio em que vivemos.