Escrever ou falar sobre o comportamento humano, hoje, não é tarefa fácil. Desde logo, porque não é possível ter presente todos os “porquês” que determinam as nossas ações como humanas. A psicologia da motivação humana esforça-se para descobrir alguns deles. Comecemos por colocar algumas prévias interrogações. Porque é que somos homens ou mulheres? Qual a razão por que nos parecemos sobretudo com os pais e não com estranhos? Porque é que a marcha, a voz e outros comportamentos podem ser masculinos ou femininos?
A ciência dá-nos duas espécies de respostas. Cada um de nós tem características devidas à hereditariedade biológica, e caracteres devidas a condições especiais do meio ambiente em que vivemos. Estes dois fatores determinam o que somos. É, aí, que devemos procurar a origem dos comportamentos humanos. Características e caracteres determinam-se mutuamente, embora, por vezes, devido às condições em que vivemos, umas se sobreponham aos outros ou vice-versa.
No dia-a-dia, observamos grande variedade de comportamentos humanos. Comportamentos que têm a ver com o “outro”; com o qual interagimos. Será possível determinar o que têm de comum? Sabemos que, antes de virem à luz do dia, os comportamentos são controlados, ou devem sê-lo, no interior do organismo e só depois pelos vários estímulos exteriores. As pulsões fisiológicas exercem um controlo interno, enquanto o meio ambiente; a cultura, o tipo de educação e formação exercem grande controlo exterior.
As pulsões fisiológicas, os motivos adquiridos (normas, costumes e ritos dos grupos sociais com os quais se identifica, ideologia, cargos, incentivos…) e uma certa motivação inconsciente; irracional (fobias ou outros medos anormais…), constituem os motivos que nos levam a agir. A questão essencial é descobrir porque foi feita uma determinada escolha. Qual a percentagem que cabe às pulsões fisiológicas, aos motivos adquiridos e à motivação inconsciente? Conhecer estas diversas motivações, é conhecer os motivos porque uns se interessam pelo desporto, outros por acumular dinheiro, pela escrita, pela poesia, pela política, ou fazendo outra coisa qualquer que os torne conhecidos.
Dentre os motivos adquiridos, parece-me justo destacar uma característica do pensamento atual, bem assinalada pela filosofia dos valores. Valores são ideias previamente dadas; que constituem o horizonte axiológico no qual vivemos. É suposto querermos realizá-los. Chegamos facilmente à captação dos valores quando a qualidade do valor é relativa. O útil, o agradável, o dar nas vistas, a lisonja e outros de natureza análoga dominam a nossa atenção e aprisionam a maior parte de nosso tempo de vida. A regra do pensamento é pensar o individual, é sentir o egoísmo e praticar o egocentrismo. A exceção é pensar o “outro”, é sentir a solidariedade e praticar o altruísmo.
Aqueles que só pensam “em si”, que se comportam segundo os ditames da ideologia que defendem e em que creem, esquecem-se de que no Universo Humano, tudo está interligado. O facto de irmos a Sevilha, em massa, apoiar a seleção nacional, só agravará a crise pandémica que nos angustia. Seria interessante averiguar quais os motivos que estão na base de tão irracional comportamento.