Venha aí a noite de Natal. Noite de alegria e da família. Tenho na memória as couves tronchudas com bacalhau, filhoses e outras iguarias da época que compunham a mesa de jantar. Após a ceia, a família reunia-se à volta da fogueira e conversava-se pela noite dentro, acompanhando com uma “pinguita”, bolos de bacalhau, frituras, sonhos, filhós, rabanadas empilhadas em pirâmide nas travessa e doces variados, enquanto se contavam histórias e outras façanhas. As famílias sentiam-se mais unidas.
Hoje, é diferente. Preferem-se os grandes centros, os melhores hotéis. Os restaurantes, as salsicharias, as pastelarias, que ostentam em exposição os seus produtos, substituem as cozinhas acolhedoras de antigamente. O espírito natalício foi e será sempre a festa da família; a festa do nascimento de Jesus Cristo. Mas, não só!
Natal é todos os dias. Natal é quando se celebra a mensagem de Cristo. Mensagem de profunda e de grande humanidade. A mensagem revolucionária de Cristo preocupou e inquietou as elites religiosas do seu tempo. Não compreenderam os ensinamentos éticos de alcance universal: o apelo à não-violência, a igual dignidade de todos os seres humanos, o amor pelo próximo- indo até ao perdão e ao amor pelos inimigos- a justiça e o espírito de partilha, a separação do Político e do Religioso, o primado do indivíduo sobre o grupo e a importância da sua liberdade de escolha.
A mensagem de Cristo desafia os poderes da época. Cristo anuncia um Deus de amor e inscreve os seus ensinamentos numa perspectiva transcendental, mas, ao mesmo tempo, apoiam-se numa profunda racionalidade.
Pela informação que obtive de estudos feitos, creio que Jesus Cristo não pretendia fundar uma nova religião, mas libertar o ser humano do peso das tradições religiosas da época, assim como acentuar a liberdade individual e a interioridade da vida espiritual. O cumprimento dos deveres religiosos através do dizer de fórmulas exteriores, à margem das exigências espirituais, é um cumprimento sem sentido.
A liberdade interior, isto é, fazer da liberdade de escolha um absoluto, é um dos pilares da mensagem de Cristo. A prática de crentes que acaba por negar uma tal liberdade interior para salvaguardar os interesses de grupo e da tradição, só pode perverter a mensagem de Cristo.
A mensagem de Cristo, além de revolucionária, era perigosa para as elites da época que detinham o poder religioso. Como tal, Cristo ou fugia e, assim, destruía os seus ensinamentos ou enfrentava as consequências da sua mensagem e tinha de morrer. Jesus aceitou a sua morte porque era a única maneira de tornar fiável a sua mensagem. Cristo não se calou nem negou a sua mensagem, antes aceitou as consequências e por isso foi crucificado.
Celebrar Cristo é celebrar a Verdade porque Cristo é a Verdade. “…Eu para isso nasci, para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade…” (Evangelho São João, 18:37).
Um Santo e Feliz Natal para todos.