Por muito que se queira disfarçar, todos os homens e mulheres são racistas. O conceito centra-se no termo “raça” e procura destacar a oposição entre brancos e negros, incluindo a segregação que inclua os grupos étnicos e religiosos. O racista defende a superioridade da sua raça, deduzindo-se que ele próprio se julga superior ao “outro” que difere de si. Bem no coração do racismo habitam dois conceitos que lhe dão vida: diferente e superioridade.
Então, não somos todos diferentes e não nos julgamos superiores em relação àqueles que julgamos inferiores? Sei que não é correcto julgar o “outro” inferior em relação àquele que julga. Mas, talvez não seja tão incorrecto porque a natureza deste juízo não é natural; não é de natureza racional, mas sim de natureza subjectiva, isto é, depende da apreciação sensível que alguém verte em juízo para se manifestar acerca da realidade sobre a qual julga.
Racismo é a atitude que se objectiva no desejo de ser diferente, superior, vaidoso e arrogante; que tem o seu espaço preferido quando tem de conviver com pessoas de outras raças ou etnias. Os jogos retóricos do parlamento são bem o exemplo disso. Não querem ser diferentes e superiores? Os partidos políticos com maior número de deputados são mais poderosos e não necessitam de abandonar o “politicamente correcto”. Detêm o poder e isso permite-lhes maior tranquilidade para levarem a cabo as decisões políticas que desejam. Porém, os partidos pequenos têm de fazer pela vida, seguindo estratégias diferentes. Desejam aumentar o número de deputados nas próximas eleições. Os partidos Chega, Iniciativa Liberal e Livre têm de usar outras armas: racismo, xenofobia, populismos, devolução de peças de arte “roubadas” às ex-colónias, entre outras. Para colorir o painel, somam-se as interpretações enviesadas dos comentadores televisivos e as brincadeiras bobescas dos humoristas. Para acabar a pintura, eis que um polícia deteve uma mulher negra, que resistiu à detenção, motivada pelo facto de permitir que uma familiar sua viajasse no autocarro público sem título válido para o efeito.
Isto é fazer política? A mim parece-me mais uma disputa argumentativa para apurar quem é o mais forte, a mais perspicaz, o diferente. Nas intervenções mais inflamadas e apaixonadas revela-se, na sua verdadeira essência, a paixão política. Tal como qualquer paixão, a política, em vez de nos unir, separa-nos. As perspectivas e as crenças são tão variadas que não é fácil negociar as diferenças que nos separam. Mas, viver em conjunto é negociar as diferenças com outrem paras se chegar a uma identidade. Ora, a luta partidária estará interessada em respeitar as identidades?
Mas, quer queiramos quer não, há que procurar, encontrar e respeitar as identidades que nos unem e que nos permitem viver em comum. Se na esfera do sensível somos todos diferentes, no horizonte dos princípios, que fundamentam as regras jurídicas, somos todos iguais. Nos juízos racionais, jurídicos, morais, só pode estar plasmado o universal. O que a sensível separa, o universal unifica.
Em conclusão: é no cumprimento da Lei que todos nos reencontramos, seja qual for a origem dos cidadãos ou das cidadãs.