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Pedro Gonçalves pedrogoncalves@entroncamentoonline.pt

Por estes dias temos visto vários conflitos no executivo camarário, conflitos esses que são fruto de uma discordância acerca da habitação social e de arrendamento a preços controlados. Aqui está mais uma vez refletida a falta de uma visão estratégica na área social, uma visão que se quer clara e com uma base de apoio alargada. A natureza delicada da área social necessita que a mesma seja tratada com consenso, de maneira que não dê lugar a dúbias interpretações.

Na minha opinião é necessário existir uma estratégia de integração, com alguns pequenos passos já dados, aliados a uma forte capacidade de segurança, e assim mostrar que existem regras que protegem e cuidam de todos. Este é um ponto de vista antigo, contudo o que me leva a escrever estas palavras vai muito mais além.

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Esta falta de pensamento estruturante e de consensos alargados faz com que as forças políticas dominantes na nossa cidade mantenham o foco nas divisões e clivagens, bastante comum nas democracias, mas que não devia de acontecer. Com estas clivagens o espaço para outros desafios e para outras visões fica curto.
Ontem veio ao conhecimento de muitos de nós uma notícia acerca da Stadler, uma construtora de material ferroviário, que poderá ser sido a fornecedora da CP no próximo concurso de aquisição de material circulante. A Stadler precisava de se fixar em Portugal para assim poder cumprir um dos requisitos necessários para o concurso, mais do que um local para se fixar, precisava de construir uma fabrica e uma oficina para manutenção do material circulante.
O Entroncamento perdeu o comboio da Staedler, não perdeu um comboio, perdeu dois, perdeu a fabrica e perdeu a oficina. A empresa anunciou que irá construir a fábrica em Ovar e que a oficina especializada irá para Guifões.  O fenómeno Guifões nos últimos anos, tem ganho uma preponderância muito grande na manutenção ferroviária em Portugal. Talvez fruto da Nomad Tech , que também está em Guifões, empresa do antigo Presidente da CP.

O município do Entroncamento devia ter exercido pressão junto dos diversos players, devia de ter-se rodeado da CP, da Medway, do Governo e dos agentes económicos locais. Desta forma, o Município ou não fez pressão ou não conseguiu exercer pressão suficiente para que pudéssemos ter no Entroncamento um polo da Stadler. Não tivemos capacidade para influenciar, já não digo para termos a fábrica, mas para termos uma oficina especializada que iria dar apoio às máquinas e ao material circulante produzido por esta. E o mais gritante é que a própria Medway, com um dos seus maiores polos situados no Entroncamento, irá ter de deslocar as máquinas para Guifões para fazer as manutenções das máquinas da Stadler que já contratou.

Vimos o processo da Medway a arrastar-se, as oficinas já deveriam estar em projeto, já deviam estar em concretização. Bem sei que se trata de uma empresa privada, porém haveria de haver, por parte do município, um agilizar deste processo.  O agilizar deste processo e a consequente criação das oficinas da Medway desocuparia instalações que poderiam ser aproveitadas para, no mínimo, criar as oficinas de um dos novos fornecedores da CP, assim com se fez com a Simef.
O nosso parque empresarial, do qual tanto se tem falado, também podia e devia ter sido “vendido” a este cluster e não só ao cluster logístico.  Não podemos esquecer que as empresas de construção de material circulante são grandes empregadoras e empregadoras de mão de obra qualificada, o que é fundamental para a nossa cidade e região.

Assim continuamos a ver aquilo que sempre vimos: os comboios a passar.

Nós próximos anos iremos ter novas eleições. Sinceramente, eu e muitas dos leitores que leem o que escrevo, não se revêm nas políticas que se estão a apresentar. De parte a parte, dos principais partidos, não existe um candidato de relevo, um candidato que, digamos, é o potencial vencedor. São precisas ideias e mais do que ideias é necessária visão, visão estratégica!

Todos já percebemos que o voto de protesto, só pelo protesto, leva-nos a caminhos que não queremos. Vimos o fenómeno do Chega, com o agora vereador dito independente, que tanto vota a favor como depois vota contra, que se preocupa com a espuma dos dias, mas que pensamento estratégico não tem, nem deixa os outros terem, que se manifesta por posições meramente ideológicas e dogmáticas. A cidade precisa de pessoas com posições francas e sinceras, com pensamento estruturado, não podendo ficar refém de posições extremadas.
É urgente que se faça não só um projeto diferente, mas também um projeto de consensos, consensual com as pessoas, com as visões, que se preocupe com a integração, que consiga dar passos para o futuro, que se foque na cidade e nas pessoas e não nos egos ou nas tricas.

Os próximos anos prevêem-se duros para a nossa cidade. A nossa cidade possui uma elevada taxa de migrantes, antecipam-se mais a chegar, o que levanta novos desafios que a governação local deve de antever, deve de antecipar, para se poder preparar para esse novo paradigma.

Com o que assistimos nas reuniões de Câmara, não antevemos grande futuro, não se entendem com o que é macro nem com o que é de importância. Vimos isso com o relatório do LNEC, com a estratégia local de habitação, etc…. Observamos o suposto independente a cair para o lado do que lhe interessa no momento, e com isso a destabilizar ainda mais o consenso a que se deveria chegar.

O Entroncamento carece de homens e mulheres com visão global e estratégica para a nossa cidade. Não digo que não os haja nas fileiras dos partidos e até nos órgãos autárquicos, porque os há. Existem nos diversos partidos pessoas detentoras de capacidades de governação e capacidades de mobilização, mas ainda assim são precisos mais homens e mulheres para governar a nossa cidade.

A nossa cidade está a crescer, mas precisa de crescer pensada, alicerçada e com uma visão de futuro. O meu repto é: entendam-se. Quem está na governação tem de se entender com quem está “do outro lado” e vice-versa.

Na multidão de conselheiros é que está o conselho sábio, ninguém é capaz de governar sozinho.

Não podemos ficar mais a “ver passar os comboios”. Não podemos perder oportunidades como a da Stadler, relembrando que poderemos estar a perder mais oportunidades únicas.

Precisamos de pensamentos mais estratégicos e menos politiquice.

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