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Pedro Gonçalves pedrogoncalves@entroncamentoonline.pt

Espero que todos os quantos hoje estão a ler esta minha crónica se possam encontrar bem de saúde e que cumpram as normas recomendadas pela organização mundial de saúde.
Por estes dias temos ultrapassado o maior desfaio da nossa história recente. A luta contra um vírus que todos desconhecem a 100% ,que não sabemos como se comporta com toda  exatidão, que desconhecemos o que impede, que não existe um medicamento específico para ele e que se propaga rapidamente sem sinais de estarmos infetados nos primeiros dias.
Isto é algo que não estávamos preparados e que continuamos a não estar. É uma pandemia e que ainda não está controlada. Teorias do Pico, do planalto, do isto e do seu contrário não ajudam, o que temos de saber é que temos de nos proteger, seguindo as recomendações.

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O 25 de Abril que eu conheço, foi uma revolução para dar melhores condições às pessoas, quero continuar a acreditar que a génese deste dia foi as pessoas, o melhorar da sua vida, o melhorar a qualidade de vida. Não se resumiu só à conquista simples da democracia, mas sim a todos os benefícios que foram alcançados.

Passei muitos anos da minha vida a ouvir falar desse 25 de Abril, do 25 de Abril plural, democrático e que foi o maior avanço para melhorar a qualidade de vida das pessoas, depois comecei a ouvir um discurso meio distorcido que afirmava que o 25 Abril era daqueles que o fizeram, de quem tinha lutado, de quem tinha sido isto ou aquilo, que era só de quem usava cravo na lapela. E este ano tenho ouvido que o 25 de Abril é para aqueles que o querem comemorar em tempos de pandemia.

Bem, aqui começo a ficar indignado. Eu sou democrata, acredito que a democracia é o meio mais justo de governar uma nação, uma região, um município, uma freguesia, uma associação.
Eu sou uma pessoa que presa e que quer que a democracia seja comemorada, seja ela comemorada em Abril, em Novembro, em Maio, em Janeiro, em que mês for.

Mas este ano, eu não quero comemorar Abril como sempre comemorei, eu este ano, quero me proteger a mim e aos meus, aos que gosto, aos que conheço, a todos. Proteger os outros é proteger-me a mim. Fazer ajuntamentos de pessoas é perigoso. Fazer ajuntamentos de pessoas com problemas de saúde, com mais de 65 anos, é perigoso. É contra as leis do Estado de Emergência. É contra a saúde dessas pessoas, das pessoas que com elas convivem, das pessoas que convivem com as pessoas que com eles convivem e por aí fora. É algo que não podemos deixar de pensar. Imaginemos que num ajuntamento desses está uma pessoa contaminada e assintomática? Quantas pessoas poderão sair daí contaminadas? E se uma dessas pessoas tem mais de 65anos? Ou se é doente crónica? Ou se irá conviver com alguém com esses problemas? O COVID-19 não quer saber se é uma pessoa com cargo político, militar, etc… Ele ataca as pessoas. E pessoas todos somos.

Estamos confinados às nossas casas, alguns sem ver os seus familiares há um mês, temos profissionais de saúde, a darem tudo o que são, a deixarem as suas famílias para trás para poderem combater a pandemia. Temos doentes internados sem poderem ter visitas daqueles que gostam e que tanto ajuda nas suas recuperações! Temos família enlutadas, sem poderem fazer o seu luto, a última despedida dos seus entes queridos.

Qual é o sentido de estado, qual deve ser o sentido daqueles que lutaram por uma democracia? Qual é o sentido daqueles que querem servir a nação?
Certamente não é comemorar, a todo o custo, o 25 de Abril nos moldes de sempre.
Este também não é o mundo de sempre. É o mundo a tentar sobreviver da melhor maneira ao COVID-19.

Não posso, não quero, nem devo encorajar a serem feitas comemorações com presença física de pessoas. Muito menos de 130 pessoas.

É mostrar às pessoas o que não se deve fazer! É dar às pessoas um sinal de que as coisas não são perigosas. Sacrificamos a economia, os afetos, os profissionais de segurança e de saúde, mas não sacrificamos uma comemoração presencial.

Não! Esse não é o caminho.

Isso não me faz ser menos democrata!
Isso faz de mim ser uma pessoa que se preocupa com o bem comum.
Isso não faz de mim um fascista!
Isso faz de mim uma pessoa que quer continuar por muitos anos a democracia.
Isso não faz de mim uma saudosista da ditadura.
Isso faz de mim uma pessoa sensata.

Nunca tivemos uma tecnologia tão avançada como hoje. Hoje a tecnologia permite que eu na minha casa, possa discursar para centenas, milhares ou milhões de pessoas.
A tecnologia permite que eu esteja reunido com centenas de pessoas, sentado na minha sala.

O sentido de Estado, o sentido de liberdade, o sentido do bom senso deveria levar a que as comemorações do 25 de Abril fossem feitas de outra maneira.

Eu quero poder continuar a celebrar a democracia.

Por favor tenham bom senso.

Aos leitores peço que tomem as medidas e que se continuem a esforçar para que o maldito COVID-19 seja de uma vez por todas controlado.

 

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