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Mário Balsa
mario.balsa@entroncamentoonline.pt
  • Está a correr bem?
  • Estão todos a aprender?
  • É simples ensinar desta maneira?

O segundo momento de ensino à distância teve o seu início a 08 de fevereiro de 2021. Passado que está um mês deste desafio que se nos coloca a todos (professores, alunos e pais/encarregados de educação), impõe-se um breve balanço.

Naturalmente, tudo o que implica uma rotura com as práticas instituídas, dinâmicas estabelecidas, estratégias testadas e receitas conhecidas têm maior probabilidade de não correr bem.

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Embora com a experiência do ano passado na bagagem, estamos perante uma realidade que nos impede de socializar, de nos encontrarmos, de nos abraçarmos, correr, contar histórias em grupo, olhar diretamente nos olhos dos nossos colegas, aprendermos uns com os outros.

Os professores estão fora da sala de aula, do seu ambiente natural e onde melhor podem cumprir a sua função. E o sistema de ensino continua a não estar preparado em pleno para um desafio desta magnitude. Está em esforço na resposta às múltiplas necessidades.

Os alunos são ligados ao sistema por uma “caixa mágica” que muitas vezes não lhes permite aceder ao conhecimento na quantidade e forma desejadas. Existem alunos e famílias pouco capacitados para utilizarem as tecnologias necessárias e existe quem ainda não possua equipamento. É, no entanto de realçar que o esforço de redução destas situações esteja a ser muito forte, a surtir efeito, mas ainda não abrange todos.

Todo um novo mundo, temporário e rápido – esperamos nós, mas que coloca uma exigência redobrada sobre a sociedade na sua capacidade de funcionar na beira do precipício e se manter solidária. E sobre a família no acompanhamento aos mais novos.

Sei que muitos dirão que esta é a obrigação da família, mas relembro que também os encarregados de educação estão presos em casa. Obrigados a cumprir os seus deveres profissionais num ambiente que deveria ser reservado ao recato da família. E mesmo nas situações em que a profissão é tradicionalmente exercida em casa, a escola costumava estar lá. O pilar fundamental que permite aos encarregados de educação funcionarem nas suas múltiplas funções e obrigações.

Acho que depois de estarmos fechados 24h por dia em casa durante semanas, com os nossos filhos e demais familiares, todos passamos a entender o difícil que é conciliar o trabalho, a vida familiar e a educação dos mais novos.

Perante o obstáculo, mais uma vez, toda a comunidade escolar se empenhou e está, dentro das suas possibilidades e das suas limitações, a dar uma grande resposta.

Os professores estão mobilizados e em pleno processo de modernização/ adaptação. Os alunos fazem esforços sobre-humanos para poderem assistir às aulas e cumprir com o que lhes é pedido. Os Encarregados de Educação estão envolvidos numa escala que não me lembro de ver em quase duas décadas de carreira.

Tive recentemente conhecimento de um aluno que na aldeia onde vive só consegue ter internet ao pé da igreja. O local mais elevado da povoação. Faça chuva ou sol, este jovem ainda não faltou a uma aula. O aluno leva o telemóvel da mãe – o único aparelho com esta capacidade lá em casa, o caderno e o chapéu de chuva e senta-se nos degraus da igreja, a assistir às aulas e a trabalhar.

Coisas boas e bons exemplos acabaram por surgir. Mesmo com estas dificuldades todas, o ensino à distância tem a capacidade de ser mais individualizado. De potenciar a avaliação contínua, envolvendo mais os alunos e os encarregados de educação. De trazer a sala de aula para o Sec. XXI através de ferramentas mais apelativas e de maior capacidade tecnológica.

É estranho, mas alguns dos meus alunos estão a beneficiar do ensino à distância, não são a maioria, mas não podemos fechar os olhos e fazer de conta que não existem.

É um sistema perfeito? Corre tudo bem? Todos estão a aprender na mesma medida?

Não! Não é perfeito, mas mesmo com a escola aberta e as aulas a decorrer normalmente erros acontecem e dificuldades existem.

O importante é regressar o mais rápido possível à escola e não perder muitas das dinâmicas que se conseguiram criar. Talvez devamos olhar para o B-learning de uma forma descomplexada, como uma ferramenta de trabalho com a capacidade de projetar o sistema de ensino para o Séc. XXI.

Em resumo, diria que neste tempo anormal o trabalho que as escolas e os seus profissionais estão a fazer para nos trazer alguma normalidade merece um Bom nesta avaliação intercalar!

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