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Mário Balsa
mario.balsa@entroncamentoonline.pt

 

De acordo com um relatório do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, pelo menos 256 milhões de pessoas serão empurradas para uma situação de pobreza extrema e fome na sequência dos desequilíbrios económicos que todos reconhecemos existirem no mundo, de entre os quais, com muito peso, a contração da economia provocada pela Covid-19 e pelo “encerramento económico” dos países.

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O crescimento do desemprego é hoje uma realidade global que já afeta milhões, tomemos a título de exemplo o que se verifica em Portugal por estes dias: Crescimento de cerca de 60 mil desempregados nas últimas semanas. 92 mil empresas submeteram pedidos de layoff ao estado, situação com o potencial de afetar um milhão cento e cinquenta mil trabalhadores, muitos dos quais poderão vir a engrossar a fileira de desempregados.

Rapidamente percebemos que a onda que nos vai atingir inevitavelmente ainda se está a formar. Arrisco-me a dizer que ainda ninguém conhece a dimensão real do problema que se aproxima da nossa porta de entrada, que não vai bater e pedir para entrar, mas sim impor-se e levar consigo o que não estiver bem seguro.

Um dos poucos lados positivos da crise de saúde pública que vivemos é o ambiente, a natureza, a Vida no nosso planeta. Com o recuo da presença humana no mundo, em virtude do encerramento da atividade económica e do isolamento a que as pessoas se submeteram, a natureza reclamou um espaço que há muito lhe tinha sido retirado.

A redução média da poluição nas cidades europeias é de cerca de 50%, Lisboa apresenta a melhor qualidade do ar desde o início do Séc. XXI – dados recolhidos pela frota de satélites ambientais europeus Sentinel. Vemos os golfinhos a regressar a Veneza, o Ártico a formar gelo novo, os veados a passear em Odivelas ou as cobras a apanhar sol, tranquilamente, no terreiro do paço. Tudo relatos que nos dizem que a natureza reclama o seu espaço e se recompõe assim que lhe damos o tempo e as condições para tal.

Estima-se que em 2020, fruto deste recuo da atividade humana, se assista a uma redução de 4% das emissões de gases com efeitos de estufa para a atmosfera. É no entanto e segundo o professor da Universidade de Lisboa, Filipe Duarte Santos, necessária uma redução de 6% ao ano para tornar a nossa vida em sociedade ambientalmente sustentável.

Ficou provado que os desequilíbrios ambientais que vivemos têm mão humana. Sabemos, hoje, também, que o planeta tem uma grande capacidade de regeneração, mas para isso temos de abandonar o modelo económico que nos trouxe à beira do abismo. Aprendemos da pior maneira… Fome, pragas, doenças… guerra pelos escaços recursos que o nosso modelo social exige. Mas já sabíamos que assim era, como diz o ditado popular: “a melhor maneira de aprender é errando”.  

E agora… o que fazemos?  Insistimos no erro?  Emendamos a mão e recomeçamos?   

Esta necessidade imperiosa de reconstrução social dá-nos a oportunidade de corrigir erros do passado e iniciar uma nova era de equilíbrio com o meio que nos rodeia. Uma oportunidade única de agir, de alterar o que temos de alterar, de construir o que temos de construir.

Como referi anteriormente, vivemos uma era de recuo económico, escassez de meios e aumento forte do desemprego, das desigualdades e da pobreza.

Para fazer face ao desemprego, à queda da produtividade e à necessidade de recuperação económica, é imperativo que os Estados invistam somas avultadas. Mas não o devem fazer indiscriminadamente. A recuperação económica alavancada pelos estados deve assentar na promoção de um novo modelo empresarial verde.

O Estado deve privilegiar investir os seus parcos recursos em modelos de negócio ambientalmente sustentáveis ou que garantam um compromisso com a sustentabilidade através da implementação de metas de neutralidade carbónica de curto prazo.

Toda a economia que destrua o ambiente deve ser impelida a adaptar-se. Estes negócios devem passar a contribuir na medida necessária para cobrir na integra os custos de reposição ambiental necessária à sua operação.

O desafio não é só português. Ao contrário de outras crises a que tivemos de atender e onde a receita de pedir dinheiro a outros estados ou entidades foi a solução e pagar muito mais foi a consequência… agora temos de ter a consciência que todos vamos precisar de pedir. Uns mais, outros menos, mas se Portugal precisa o que dizer de Espanha, Itália, França… até os Estados Unidos – com níveis de desemprego superiores aos da grande depressão de 1929, considerada até hoje como a mais devastadora crise económica dos EUA. É por isso imperativo ter a consciência de que não podemos gastar os poucos recursos de que dispomos onde não haja retorno sustentável.

Precisamos de dinamizar as economias locais, de investir nas nossas comunidades ao lado da porta, assumindo os municípios um papel preponderante nestes tempos. É preciso (re)construir local, é urgente consumir local. Vamos regar as sementes de uma economia em comunidade e proximidade.

 

 

 

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