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Manuela Poitout manuelapoitout@entroncamentoonline.pt

Não tem esta história, que é verdadeira, retirada de um registo paroquial da data indicada no título, uma relação direta com o Entroncamento, que nem existia nessa época, mas é elucidativa quanto ao transporte utilizado por quem viesse de Lisboa para a nossa região, nas décadas de oitocentos anteriores à chegada do comboio.

Este registo, de que falo, pertence à freguesia de Seiça, atual concelho de Vila Nova de Ourém. Nele diz o pároco que em 13 de janeiro de 1828 batizou solenemente José, nascido a 31 do “mês próximo passado”, filho de Domingos José da Cunha e de Elena Rosa residentes em Lisboa, “e porque vindos de jornada para estes sítios aconteceu nascer no barco vindo para a Barquinha”, e depois lhe foram pedir que batizasse o filho, pedido necessário porque não eram moradores na freguesia de Seiça.

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Não era esta, certamente, uma jornada de passeio ou de negócios, dado o estado da futura mãe, mas tem uma explicação lógica, porque Elena Rosa era natural de Monchite, lugar próximo de Tomar, onde viviam os seus pais, e há-de ter querido ter o filho junto dos progenitores.

Só que a natureza ou as agruras da viagem determinaram o nascimento mais cedo, e aí temos nós, para os barqueiros e viajantes da ocasião, um acontecimento fora da rotina habitual.

Ainda hoje são notícia os bebés nascidos em ambulâncias, comboios e aviões, onde o conforto é sempre muito maior do que num barco do início de oitocentos, e ainda com a agravante de se estar em dezembro.

E porquê a Barquinha, se iam para Monchite?

A Barquinha era um porto fluvial importante e junto dela passava a estrada real que ia da Golegã para Tomar, e de Tomar partia outra estrada, que ia por Vale dos Ovos e Chão de Maçãs para Ancião e Coimbra, dando acesso a Monchite.

Este era o trajeto mais acessível de que dispunham, e provavelmente o mais rápido.

Diga-se que, apesar do qualificativo real, esta estrada por onde viajaram estaria em muito mau estado, como as restantes estradas do país, até porque as invasões francesas, ainda relativamente recentes, tinham deixado o território completamente devastado.

Imagine-se, pois, o que aquela pobre mãe terá passado, nesta segunda parte da viagem, aos trancos e solavancos, com um menino ao colo, a cavalo ou de carroça, que o registo não diz, nem seria suposto dizer.

Pormenor interessante nesta história, é que o pai do menino era da região de Braga, do lugar de Eirós.

E com um simples registo ficou traçado um começo de uma vida e as suas circunstâncias, com a particularidade de haver alguém que tenha como lugar de nascimento “o barco vindo para a Barquinha”.

Manuela Poitout

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