Conheci esta singular personagem em 1963, em Tomar, quando fui para lá trabalhar na Escola Industrial e Comercial.
Havia qualquer coisa no seu aspeto que atraía o olhar, não porque fosse excêntrico ou malformado, talvez fosse algo de especial que ele conseguia transmitir, ou então era apenas a aura que ganhara, de saber de cor todos os números de telefone de Tomar, e mesmo de outros lugares.
Lembro-me dele com as listas telefónicas debaixo do braço, que ele mesmo publicava ou elaborava, trazia-as para vender. Creio que também vendia outras coisas, para sua subsistência, pois não tinha ofício próprio, nomeadamente tapetes de feitura artesanal, que trazia enrolados.
A que propósito virá esta conversa sobre Nené Cebola, dirá o leitor, passados que são 55 anos, e quando o assunto não tem nada a ver com o Entroncamento?
Pois parece que tem, e eu vou explicar.
Encontrei há tempos uma notícia dos anos cinquenta, que se referia a uma pessoa em tudo parecida com este Nené Cebola de quem vos falei, mas o senhor chamava-se Leonel Carvalhais. Transcrevo-a aqui:
“O nosso homem chama-se Leonel Carvalhais e é do Entroncamento
Tomar (ANI) – Quando se quer telefonar de Tomar para o Entroncamento ou outras localidades das redondezas não é preciso consultar a lista telefónica, pois basta perguntar a Leonel Gonçalves da Silva Carvalhais o número de telefone da pessoa a quem se deseja falar.
Sabe de cor o Leonel Carvalhais – que é natural do Entroncamento – nada menos do que o número dos telefones de 8.000 assinantes e respondendo com precisão e prontamente bem pode ser ele considerado verdadeiro cérebro eletrónico humano.”
A notícia não tem o nome do correspondente, mas ela tem a chancela de O. P. Brito, quer no conteúdo, quer na escrita, e na expressão nada menos, que usava e abusava.
Vem publicada no Diário de Notícias de New Bedford, no estado de Massachusetts, em 9 de janeiro de 1959. Não é a única. Muitas notícias do Entroncamento, nomeadamente de fenómenos, foram publicadas nesse jornal luso-americano.
Este é um fenómeno que não se difundiu por cá.
Quanto a Nené Cebola, tudo indicava que ele e Leonel Carvalhais eram a mesma pessoa. Mas como confirmar?
A net, quando bem utilizada, é uma das maravilhas do mundo atual. A ela recorri, na esperança de encontrar alguém que estivesse por dentro do enigma. Por sorte, encontrei, no blogue “Se a Inês sabe disto…”, com texto de Edmundo Gonçalves. E confirmou-se a coincidência.
Não sabemos se Nené Cebola, ou Leonel Carvalhais, seria mesmo do Entroncamento, e a ser verdade, tal facto não tem qualquer relação com a sua memória prodigiosa.
Mas a tendência que existe em relacionar os factos fora do comum com o lugar, fez-me pensar nas várias explicações já avançadas, como a existência de determinadas condições climáticas, a natureza dos solos, ou energia telúrica.
Esta última hipótese é avançada, ainda que com um sinal de interrogação e outro de exclamação, numa interessante obra sobre os templários em Tenerife, em que Tomar, a cidade templária, é ligada a Fátima e ao Entroncamento, formando um “Triângulo energético de poder”. E o autor, José Carlos Gil Marin, recorda também o facto de em 1956 se terem avistado OVNIS, no Entroncamento. *
Veio tudo isto a propósito de Nené Cebola, e das suas extraordinárias capacidades, e daí vim parar aos fenómenos e às explicações sobre as especificidades do território local. E não vamos ficar por aqui. Como novas áreas de conhecimento se estão continuamente a abrir, como as caixinhas chinesas, é de crer que outras ideias virão.
*Entroncamento – Um corpo estranho que, esta tarde, fora visto no céu, despertou viva curiosidade em grande parte da população que, em grande número, veio para a rua, com o nariz no ar, a admirar o estranho fenómeno. Pelo que vimos – e foi a polícia de giro que nos indicou – tratava-se de uma pequena bola branca situada a pouca distância (?) da Lua e sem se mexer. Entretanto, algum tempo depois, a estranha bola branca deixou de se ver.
(Comércio do Porto, 02-09-1956)
Manuela Poitout