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João Fanha Vieira joao.vieira@entroncamentoonline.pt

Desde sempre que aprendi a respeitar a nossa língua, tanto falada como escrita. Fui assim educado e sou fruto de um ensino rigoroso, em que o erro era punido com dureza. Felizmente, tive sempre uma certa aptidão para a escrita e era com sofrimento que via, na escola primária, os meus colegas a levarem as reguadas que correspondiam à quantidade de erros que tinham cometido no ditado. Claro que esse nunca seria o caminho para ensinar a melhorar a escrita e, quem na altura não tivesse essa aptidão por mais reguadas que levasse, continuava com a mesma inaptidão…

Passaram os anos, o ensino mudou e extremou-se: da intolerância violenta ao erro, passou-se para o fechar de olhos aos erros em catadupa que nos vão aparecendo pela frente. A ortografia tornou-se, infelizmente, um pormenor irrelevante. A falta de leitura, a escrita sem regras, a confusão que é o “acordo“ ortográfico, mas também as baixíssimas médias exigidas pelas universidades na área da Educação, tudo isso contribui para que as pessoas escrevam cada vez pior. Nos dias de hoje, a permissividade ao erro é tão grande e as atenuantes debitadas para o sistema de ensino são tantas, que é praticamente impossível reprovar um aluno que cometa (muitos) erros.

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Esses erros tornam-se mais evidentes, e de forma muito preocupante, no jornalismo televisivo, sobretudo nas legendas ou frases curtas que aparecem, geralmente nos telejornais (oráculos), mas também em mensagens, como acontece com a RTP e o “feliz natal” ou com a Direção Geral da Saúde que fica reduzida a uma “Dgs”. Quando o erro é difundido por este canal que acarreta a grande responsabilidade da boa divulgação da língua portuguesa e que deveria ser um exemplo, está tudo dito…

Mas no topo dos maus tratos à nossa língua, encontra-se o famigerado Facebook!

Esta rede social veio dar a oportunidade para as pessoas libertarem as suas opiniões e opções sem terem que ter cuidados especiais com a língua portuguesa. Muitos dos seus frequentadores, habituados à impunidade sobre o erro, escrevem o que pensam, sem pensarem na qualidade do que escrevem.

O que interessa é a mensagem, não a qualidade dessa mesma mensagem. De repente, os portugueses são autores(!) nem que seja de mini-textos onde os erros são tantos (ou mais…) do que as palavras! Mas isso não interessa para nada! Há pessoas que escrevem, há pessoas que lêem o que foi escrito e, maravilha das maravilhas(!) até põem “Gosto”! Eventualmente, até comentam o que leram e escrevendo, igualmente, com outros erros grosseiros.

Caso surjam textos mais longos e complexos, os diversos conteúdos podem interagir e é aí que, quanto a mim, surge o maior de todos os problemas literários em Portugal: a iliteracia.

Saber juntar letras e fazer palavras, saber juntar palavras e fazer frases, não é sinónimo de conhecimento literário! Tem que se saber perceber o que se lê e tem que se perceber o que se escreve!

A incapacidade para perceber ou interpretar o que é lido, torna-se deveras preocupante. Quando os leitores chegam ao final do primeiro parágrafo ou a meio do mesmo texto, já tecem comentários sobre tudo o que foi escrito, sem lerem devidamente todo o seu conteúdo, ou não compreendendo a interligação entre parágrafos.

O Facebook acaba por ser o espelho da péssima educação literária que está a ser desenvolvida pelo(s) Ministério(s) da Educação, sempre na tentativa de criar números ilusórios de literacia para a Comunidade Europeia e, nessa sequência, amarrando os professores por forma a que estes não possam elevar o grau de exigência literária que gostariam que existisse!

 

(O autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico)

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