PUB
João Fanha Vieira joao.vieira@entroncamentoonline.pt    

Num momento em que tanto se fala sobre o confinamento, o dever cívico de ficar em casa, de se proteger e proteger o próximo, eis que as instituições políticas, desde o Presidente da República até ao Governo, passando pela Assembleia da República, falham clamorosamente no equilíbrio das medidas que tomam.

As medidas políticas sobre as comemorações de datas como o 25 de Abril ou o 1º de Maio são clamorosas faltas de respeito ao que é (e bem!) pedido ao mais comum dos portugueses. Foram um exemplo do que não de deve fazer; foi o pior exemplo que se podia dar. Mais uma vez os políticos que nos deveriam representar vieram reforçar aquilo que a maioria da população pensa: esta gente não é de fiar!

PUB

Mais, estas comemorações têm o dom de me confundir quanto às leis que limitam direitos fundamentais, justamente alguns dos que foram conquistados em 1974. Transmite a mensagem de que a lei não é para todos, a ideia de “faz o que eu mando fazer, mas não faças o que eu faço” e que, afinal, também os valores de Abril estão de quarentena. Nada mais antidemocrático e perigoso!

A nível político, este governo ainda vive da “geringonça”, tentando agradar sobretudo ao BE e ao PCP, porque não sabe quando poderá precisar do seu apoio. Por sua vez, os partidos que têm apoiado o governo, sabem que “não existem almoços grátis”, e que estes “favores” serão cobrados mais tarde mas, até lá, muitas coisas poderão mudar e que estas conquistas de multidões em tempo de confinamento, já ninguém lhas tira.

Se ainda subsistissem dúvidas de que este governo está refém desta esquerda pouco consistente e definida, certamente que agora terão ficado definitivamente dissipadas.

Claro que a ministra que tutela a pasta da cultura veio em apoio do PCP para a realização da sua festa, admitindo uma eventual excepção para aquele evento. Mas, afinal, o evento é político ou cultural?

Mas, e dentro de toda esta incongruência, o argumento utilizado por António Costa ao afirmar que “Não há nada que permita na Constituição, na lei ou onde quer que seja a proibição do exercício de actividades políticas”, leva-me a perguntar: será que a Constituição, ou qualquer outra lei, permite a proibição do exercício de actividades religiosas?

Apesar da Constituição não o permitir, o governo pode proibir os portugueses de saírem de casa, excluindo, no entanto, dessa imposição, quem alegue fazê-lo por motivos de carácter político!

No fundo, o que António Costa nos quis dizer foi que os políticos não são abrangidos pelas regras legais aplicadas ao comum do cidadão.

No entanto, temos que o reconhecer, há, na verdade, uma grande diferença entre os festivais de música agora cancelados e a festa do Avante: enquanto que nos primeiros as receitas revertem para os promotores dos espectáculos, no outro vão direitinhas para os bolsos da nomenclatura comunista.

Confirma-se, assim, a natureza política daquele acto, pois trata-se, sobretudo, de uma recolha de fundos para a causa.

O 25 de Abril deve ser comemorado, assim como o 1º de Maio, ou quaisquer outras datas de relevo. O que está em causa não é a comemoração em si, mas o modo de comemoração!

Algum cristão deixou de o ser quando viu o Papa, sozinho na imensidão do espaço da catedral do Vaticano, a comemorar a Páscoa?

O Presidente da República referiu que estava de acordo com a manifestação do 1º de Maio, para que não houvesse uma pausa na democracia… No entanto, já pode haver pausa na religião: na Páscoa, no aniversário das Aparições de Fátima ou no início das comemorações do Ramadão, todos foram ateus por esses dias. Magnífica a coerência dos argumentos, não é?

(O autor não escreve com base no novo acordo ortográfico)

PUB