São horas de descanso para a maior parte dos entroncamentenses. Mas o centro cultural fervilha. Dia 12, pelas 21h30, “A Madrugada da Liberdade” sobe ao palco, uma peça de teatro que quer fazer jus à importância da memória agora que passam 50 anos do 25 de abril. O EOL foi presenciar um dos seus ensaios e o que vimos foram jovens e menos jovens focados na arte de fazer questionar
João Coutinho é o encenador, “mestre de obras” da peça de teatro que (dia 12, sexta feira) estreia. Tem uma presença peculiar, sente-se que sabe o que faz e, acima de tudo, que o faz com sentimento. Aos poucos, os atores e atrizes foram chegando. É teatro amador, não nos esqueçamos. Antes de quaisquer ensaios, há cumprimentos, afetos e conversa.
Para João Coutinho, a química entre os integrantes (amadores) é muito importante. Mas não deixa de olhar para outros voos. “Estou reformado. Tenho tempo e alegria. Comecei na Chamusca, ainda era Sérgio Carrinho o presidente da autarquia. “Tinha-me reformado, e há um dia em que uma professora aqui da escola me perguntou se eu podia ajudar os miúdos a fazer algo lá e, entretanto, a vice presidente Ilda Joaquim soube disso e convidou-me para fazer uma pequena ação, apenas uma vez”.
Coutinho é uma figura. Das boas. Só de olhar para ele sente-se a diferença, vê-se alguém que sobressai como um ser estranho à vida rotineira. Não tem papas na língua nem se preocupa com convenções sociais. Aquilo que nos contou foi que a Carruagem 23 surgiu num clique. É o primeiro clique desta reportagem. “Fui falar com a vice-presidente da câmara e, ao conversarmos sobre teatro, ela perguntou, “porque é que não fazemos um grupo de teatro no Entroncamento?” Então, embora, eu reformei-me há um mês, vamos a isso”.
A autarquia foi rápida a responder e num outro clique (que não será o último nesta reportagem) disseram ao encenador: “Olhe, tem aqui a chave do estúdio 121 para vocês ensaiarem, e foi assim”. “Nas redes sociais comecei à procura de pessoas e apareceram logo 40 interessados(as). Fizemos uma pequena revista (em novembro de 2023) correu muito bem e agora estou a procurar solidificar isto para pensar em coisas mais ambiciosas”, diz Coutinho sempre numa pose descontraída.
No teatro cabem todas(os)
Rafael tem 17 anos. Está na carruagem 23 desde o seu início. É um adolescente tímido fora do palco. Mais que isso, confidenciou ao EOL que não gosta da escola, “não me sinto bem lá, mas aqui sim”, e, apesar da sua timidez evidente, quando entra em palco transforma-se. “Tenho vários papéis: criança, soldado… o teatro é o que quero fazer para a vida, ou algo relacionado com a voz” diz-nos.
No palco é uma figura imponente, porque o palco faz isso mesmo, potenciar a voz, as palavras, as emoções. Tal como outros e outras que se agigantam quando pisam o palco. São dezenas de pessoas a construir um espetáculo. Rafael é “só” mais um.
Como Isabel Ribeiro, de 64 anos, sem os mostrar… Também está no Carruagem 23 desde o seu berço. “Eu sempre gostei de teatro e vi neste grupo o início de um projeto que já tinha na minha cabeça há algum tempo”. “Eu vivo no Entroncamento há relativamente pouco tempo mas tenho muitas raízes aqui”.
Isabel, sempre sorridente, e do alto da sua experiência, disse ao EOL que “há muito amor neste grupo extraordinário”, e olhando para a sua vida confidenciou que “agora que estou na fase terminal do meu trabalho foi o momento certo para entrar nesta “brincadeira”. “Quando chego a casa depois dos ensaios sinto-me realizada!”. Mas a questão impera. Como é que Isabel chegou ao teatro da Carruagem 23? “O que foi preciso foi um clique. Vi na Internet e fui uma das primeiras a inscrever-me”. E como prometido aqui fica o último clique desta reportagem.
Na celebração dos 50 anos do 25 de abril há um conjunto feliz e realizado que preparou incessantemente a peça “A Madrugada da Liberdade”. O EOL esteve lá, e viu o ensaio todo. Se ainda não tem bilhetes é bom que os procure. Sexta feira, dia 12 de abril, no Centro cultural do Entroncamento pelas 21h30.
Texto e fotos: Ricardo Alves