
fernanda.alves@entroncamentoonline.pt
Na minha terra, a noite de S. João é noite de festa.
É noite de enfeitar o pinheiro e as fontes, saltar as fogueiras e queimar as alcachofras. Diz o povo que a alcachofra queimada nesta noite, se deve guardar, para mais tarde interpretar. Se voltar a florescer é porque o amor está presente e seremos correspondidos por aquele/a por quem suspiramos. Caso contrário…fica p’ro ano que vem! Em tempos idos, o Pinheiro que cortávamos no mato era colocado no meio da praça ou da rua, queimava-se o rosmaninho e alecrim, saltávamos à fogueira, e era vê-los, novos e velhos, juntos na algazarra da festa, a rir e conversar até o sono apertar. Hoje não sei como é. Há muito que não passo uma noite de S. João nestes preparos. Sinto saudades!
Neste momento, sinto saudades também, das festas anuais cá do burgo. As festas de S. João e da Cidade! E que festas! Não costuma haver alcachofras mas há alegria nas ruas, há barulho saudável, há convívio, há sardinhas assadas e outras iguarias, há sentimento de união, há orgulho!
A saudade que sinto, mistura-se com alguma nostalgia pelo contexto que vivemos, atualmente.
Não vou falar do COVID. Deixo para quem sabe e respeito muito quem o faz e quem decide, em torno dele. Não será fácil decidir, quando a morte nos ronda, quando o medo nos invade e o futuro se avizinha incerto. Por isso respeito quem nos “obriga” a usar máscaras que nos abafam, a desinfetar as mãos à entrada e à saída da frutaria, da padaria, do dentista, da retrosaria, do supermercado. Respeito, mas não gosto, de me manter afastada do meu semelhante, de não poder abraçar, tocar, de falar através do écran… novos tempos, enfim.
Novos, mas não tão novos assim.
Senão vejamos!
Se estivéssemos em festa por cá, natural seria que algum lixo se produzisse, um pouco, pela cidade. Não é natural, termos uma papeleira à distância de um metro e atirarmos o copo da cerveja para o chão. Não é natural, “despirmo-nos” da máscara que nos protege o rosto e, subtilmente, deixá-la deslizar para a relva para se juntar a mais uma ou duas que ali “caíram”. Não é natural, desconfinarmos na praça ou na rua e atirar a beata do cigarro para o chão, para que o funcionário da autarquia limpe, que é para isso que lhe pagam!!!.
E estes comportamentos não são novos! Já aqui escrevi sobre a falta de civismo que alguns teimam em perpetuar.
Não querendo passar lições de moral, lamento que muitos não respeitem o espaço que é de todos. Lamento, ainda mais, a leveza com que alguns tratam a cidade que, a par de todo o país, sofre em silêncio os males do “bicho” que entre nós se acomodou. Só isso, já é suficiente.
Em tempos de pandemia, não temos festas na cidade. Não temos liberdade de viver a cidade, os amigos, a família. Pede-se contenção nos cumprimentos, nos convívios, nos ajuntamentos. Pede-se, por todo o lado, que “Fique em casa, proteja-se a si e aos seus!”
É caso para perguntar. E quem nos protege a nós? Quem nos protege das atitudes daqueles que recorrentemente, nos desrespeitam e desrespeitam a cidade?
E termino com um apelo, não aos prevaricadores (esses que hajam em consciência), mas ao santo padroeiro:
“Oh meu rico S. João,
este ano não sais à rua.
Não teremos procissão,
nem festas à luz da lua.
Não sais tu, mas saem outros.
que o COVID não amedronta.
Dá-lhes juízo, dá-lhes bom senso,
que eu não tenho nada contra.”