«Constância, linda princesa», com fotografias de Ricardo Escada, uma edição patrocinada pelo Município de Constância, acabou de ser lançada nas festas do Concelho. Um trabalho de autor, muito pessoal, como gosta de dizer o artista. O título (assacado e bem ao «Hino de Constância»), remonta a 1983, transformado em fado há uns anos na voz de Tina Jofre (autora da letra), tem a música do autor da presente crónica.
A primeira divulgação pública do livro ocorreu no dia 1 de Abril de 2024, feriado do concelho de Constância. Serviu de ocasião uma cerimónia de homenagem ao antigo presidente da câmara municipal, António Mendes, evento reivindicado de há dois mandatos a esta parte por parte da assembleia municipal. A edição contém uma introdução de Sérgio Oliveira, presidente da edilidade onde se começa por enaltecer a paisagem da vila com «o seu casario de traça original que sobe pela colina acima até à imponente igreja matriz» local onde se encontra «a mãe dos marítimos de outros tempos – Nossa Senhora da Boa Viagem», assinala o presidente. Num segundo passo, traz-se à memória o antigo porto fluvial «paragem obrigatória do comércio e da actividade económica durante séculos». Sem os nomear, o presidente evoca a «terra de poetas e escritores» perdendo assim uma oportunidade de oiro para divulgar nomes como Tomaz Vieira da Cruz ou Elviro da Rocha Gomes, a título de exemplo. Finalmente, o elogio ao autor do livro o qual vê agora mais uma vez reconhecido o seu trabalho por parte deste executivo naquilo que é uma viragem face a outros olhares anteriores da autarquia. Talvez inspirado no reconhecimento que a imprensa regional dedicou variadas vezes ao trabalho do artista, Sérgio Oliveira reconhece em Ricardo Escada, «um homem inspirado pelo despertar do sentido cultural e de arte que a vila provoca». A edição deste trabalho por parte do município escreve o presidente «dignifica o concelho, principalmente por ser desenvolvido por um filho da terra».
Sónia Chainho, no prefácio, coloca a tónica na identidade da «Vila-Poema», bem metaforizada nesta «viagem valiosa e profunda» onde a história, as gerações e o conhecimento humano são elementos bem presentes. Um livro que é sem margem para dúvidas uma obra de arte, (argumenta a prefaciadora) «espelho da sensibilidade do seu autor e da forma como ele percepciona a realidade». Uma narrativa fotográfica em que Ricardo Escada permite ao leitor «entrar numa conexão sensorial com a localidade que lhe dá o nome e com as gentes que lhe dão vida». Aqui poderíamos ver, se quiséssemos, uma certa nostalgia de outros tempos e de outras gentes pois o burgo está quase deserto de população fixa e residente e a vila é agora mais um centro de alojamentos locais permeável a novas influências mundanas.
Ricardo Escada nasceu em Dezembro de 1979 sendo que aos catorze anos já fotografava. Tempos em que andava de bicicleta pela estrada fora. Daniela Gomes autora da nota biográfica, destaca o percurso de Ricardo nas artes do espectáculo. No Chapitô, diz a «biógrafa», apurou Ricardo a técnica e o gosto pela representação. Um artista que «não gosta de se intitular como actor» e que prefere «a sua busca incessante pelo estatuto do mesmo».
Ao longo das suas páginas podemos sentir a lente atenta e minuciosa do artista. Daniela cita alguns exemplos de participações em filmes, séries e telenovelas como «Fátima», de Marco Pontecorvo, «Raposa», de Leonor Noivo, «O ano da morte de Ricardo Rei, de João Botelho. «Ministério do tempo», «Bairro», «Anjo meu», «Jardins proibidos» ou «Rainha das flores», são exemplos de um extenso e versátil percurso, assinalado por Daniela Gomes.
Actualmente, Ricardo Escada, regressado às suas origens, faz fotografia de social. Retrato biográfico de um homem apaixonado pela representação «que procura na fotografia, a sua antítese», bem o descreve Daniela.
Paulo Jorge de Sousa foi o autor do posfácio, e dá-nos um olhar mais técnico sobre o artista. Permito-me destacar apenas uma passagem elucidativa: «(…) este livro mostra em imagens, a sua sensibilidade e a sua arte, ao andar pelas ruas de Constância, de dia ou de noite, de câmara fotográfica na mão, dividindo a sua atenção entre a luz natural ou a falta dela, sendo chamado por uma sombra vincada, ou pela falta dela».
E digam lá se a fotografia com arte, não é uma arma poderosa para a divulgação de mensagens, ideias e emoções?
José Luz (Constância)
PS- Tal como o artista, não uso o famigerado AOLP.