O título desta crónica é um embuste. É um embuste porque não fui eu a criá-lo. Foi uma banda, os Faith No More. “The Gentle Art of Making Enemies”. Na língua inglesa fica sempre bem, já cantava Manuela Azevedo dos Clã, uma das melhores (não maiores) bandas portuguesas.
Fazer inimigos é muito menos complicado que fazer amigos. Basta pensar. Sim, pensar, indagar, refletir. Depois deste processo, acaba o sol e começa a chuva.
Há uma turba de pessoas que estão sempre com o dedo no gatilho das suas próprias inseguranças. Quando sentem um pensamento independente e, acima de tudo, contrário às suas perenes convicções, disparam com desaforos, ameaças e intimidações.
Há, neste nosso Portugal, quem pense que a solução para os nossos problemas é regressar ao passado. Aquele que não nomeio ou descrevo. Aquele no qual não vivi mas tive a sorte de ter uma família que me o descreveu e me fez ler sobre o mesmo.
Há, neste nosso Portugal, uma força política que, independentemente das asneiras que faz, e são muitas, cresce nas intenções de voto. E essa força política, a qual não vou nomear, ainda nem sequer provou o “doce” sabor do poder.
São asneiras atrás de asneiras. Mentiras e aldrabices. Um líder eterno. Sopranos a comandar surdos.
Mas, ainda assim, crescem.
Asneiras sobre asneiras. Podíamos trazer à baila todos os partidos que não direi o nome. Mas só erra quem tenta fazer. Não é uma desculpa, é a realidade. Grande parte do sucesso dos sopranos que comandam surdos é o falhanço, ou por outras palavras, o sucesso em fazer asneira.
No entanto, não entremos tão depressa nessa noite escura. O verdadeiro enigma é este: como é que uma organização que ainda não chegou ao poder, que tem tantos problemas internos, que elege autarcas apenas para os perder por desavenças, que mente constantemente (constantemente é menorizar a realidade), consegue ser a terceira força política em Portugal e, mais, duplicar a sua presença na Assembleia da República, segundo avançam as sondagens?
A culpa é de todos. Quando deixamos que hajam saudações nazis em plena capital, sob o olhar atento de polícias em protesto, quando deixamos que deputados sejam declaradamente misóginos e racistas na casa da nossa democracia, quando deixamos que mintam repetidamente e tenham um discurso demagógico sem nos sentirmos ofendidos e até dizemos “é preciso pulso para estes corruptos”.
Sem dizer nomes. Mas com embustes. Estamos numa fase decisiva deste nosso Portugal. Há culpas disparadas certeiramente para todos os lados. Mas, apesar da confusão, tenhamos arte para fazer inimigos. Pelo menos sabemos com o que contamos, gentilmente. Pensar, hoje em dia, é uma arte. A chuva é só uma consequência de um largo período de seca de ideias, comportamentos dignos e auto flagelação.
Mas há algo de que não devemos abdicar: da verdade. E nessa balança o embuste pesa. Mas só para os cegos. Um viva aos amigos. Cada vez mais raros.